Presa.


Queria poder olhar para traz e não ver tanto sangue em meu passado.
Talvez o que eu esteja sentindo seja alguma forma de redenção, quem sabe um dia eu serei absolvida pelos meus pecados e as almas que eu expulsei da terra possam enfim me perdoar.
Algumas vezes enquanto observo minhas vítimas implorando salvação, começo a pensar na minha própria.
Já vi pessoas de joelho implorando por um perdão supremo ou as que gritam de dor sem saber que naquele momento ninguém pode escutá-las.
Força nenhuma pode salvar sua vida ou o quer que seja naquele momento.
A alma já é minha, o corpo já é meu.
Quando param de gritar eu sei que falta pouco, pois o silêncio os confortam enquanto esperam por um milagre.
Não aprendem que se tratando de mim, milagre nenhum os ajudará.
Suavemente levanto teu corpo do chão. Não gosto de teu sangue, apenas tua alma.
Então transformo o corpo em poeira e observo o vento dançar.
Escolho minhas vítimas como quem escolhe uma fruta, mas eu colho as podres.

Coisas Simples.


Eu quero escrever na lua.
Quero desenhar no céu.
E fazer anjos na neve.
Quero olhar para cima e sorrir.
Mas sorrir de felicidade.
Eu quero um abraço forte.
Só para sentir aquele aperto gostoso.
Quero sair correndo até cansar
Depois deitar na grama e rolar.
Quero só as coisas simples.
Quero as coisas que ficam.
Agora eu vou fechar meus olhos.
Pois mais nada eu temo.
E esperar só o melhor que está por vir.

Deixe-me.


Alguém por favor apague a luz.
Me deixe no escuro e em silêncio.
Deixe-me ouvir meu coração bater por mais algum tempo.
Deixe me sentir quente.
Enquanto eu ainda consigo manter meus olhos abertos.
Não me toque.
Deixe que sozinha este momento eu possa apreciar.
Deixe eu olhar ao redor.
Mesmo sem nada enxergar.
Deixe eu sorrir.
Por que nem eu mesma sei o que há.
Se eu quiser chorar.
Deixe-me em paz.
Pois é o único jeito de aliviar minha dor.
Eu vestirei a minha capa.
E na chuva eu sairei.
Para que com minhas lágrimas ela possa se juntar.

Saudades.


É só não lembrar.
É só apagar todos os sentimentos referentes.
Anestesiar minhas memórias.
É só levantar todos os dias como se nada tivesse acontecido.
É só pensar que nada faz sentido.
Dormir e acordar como se não tivesse existido.
Para que nenhuma lágrima escorra em minha face.
Mas não da para simplesmente esquecê-la.
De repente algo me acerta como uma flecha.
Algo que aperta meu coração e faz eu gritar.
Mas ninguém me escuta.
Ou talvez eu nem tenha gritado tão alto.
Ninguém parece perceber que estou aqui.
Mas eu não quero realmente ser percebida.
Vou aos poucos enlouquecendo.
Vou aos poucos perdendo mais um pedaço de mim.
Aos poucos vou sumindo.
Acho mesmo que aos poucos eu vou morrendo.

cincomeses